Já que ninguém quer ler o manual e quer saber como amaciar, está aqui a
explicação sobre este misterioso período da vida da moto.
Moto
novinha, recém-saída da revenda. Viajar? De jeito nenhum, ela está
amaciando. Levar garupa? A mesma coisa. Sair com ela, apenas muito
devagar, até completar os primeiros mil quilômetros Essas são as
preo*beeppações de um novo proprietário de uma motocicleta zero
quilômetro, porém, nem todos sabem exatamente para que serve o período
de amaciamento. Outro tipo de pessoa é aquela que não acredita em
amaciamento, e ainda, algum tempo depois, diz que “a minha moto anda
mais porque amaciei no pau”. Dois extremos de procedimento, ambos
errados.
Amaciar uma motocicleta nova é uma tarefa simples, mas
que exige um conhecimento mínimo do proprietário; para que este saiba o
porquê da coisa, e um pouco de paciência. Mas do bom amaciamento
dependerá a durabilidade do motor. Não abusar das altas rotações é uma
das recomendações básicas para o amaciamento do motor. Isso não quer
dizer que não se pode passar dos 5.000 rpm de jeito nenhum, como pensam
alguns. Esquentar bem o motor com a moto parada também é um
procedimento desaconselhável, mas que se costuma se ver com muita
freqüência. A melhor maneira para amaciar um motor é usar o bom senso.
O que “amacia”
Apesar
do termo, nada dentro de uma motocicleta fica mais "macio" depois de
algum tempo de uso. O período chamado de amaciamento serve para que as
peças que atritam entre si adaptem-se, reduzindo assim as perdas por
atrito. O melhor exemplo disso, é o conjunto pistão-anéis-cilindro,
cujo atrito é bastante considerável devido à grande área de contato
entre as peças. Como cada componente é produzido separadamente, é óbvio
que eles não se encaixam com precisão micrométrica, e muito menos são
exatamente lisos (mesmo que a olho nu isso pareça acontecer).
Quando
o motor é montado, sempre existem regiões entre essas peças nas quais o
contato é mais ou menos intenso, justamente com um atrito maior ou
menor. O amaciamento consiste no desgaste dessas diferenças para que os
próprios componentes busquem pelo atrito sua melhor adaptação. Outro
ponto importante no amaciamento é a rugosidade das superfícies dessas
peças. Por mais que elas pareçam lisas, sempre existe uma certa
rugosidade que fará o atrito maior que o normal em uma moto já rodada.
Durante amaciamento essas rugosidades extras são eliminadas também pelo
próprio atrito entre as peças.
Devido a esses dois fatores, o
“amoldamento” entre os componentes e o “alisamento” de suas
superfícies, fica claro o porquê de um motor amaciado ser mais solto
que um não-amaciado: além do atrito ser menor, as folgas são maiores.
Isso acontece em todas as partes do motor, como virabrequim, bielas,
comando de válvulas e até engrenagens do câmbio, porém, em maior
intensidade no pistão, anéis e cilindro.
Assim, os primeiros
quilômetros com uma motocicleta zero devem ser mesmo cercados de um
certo cuidado, mas sem exageros. O amaciamento tem seu motivo, razão
pela qual os fabricantes recomendam um uso diferenciado neste período.
Como existe um desgaste muito maior que o normal, as partícuplas que se
desprendem das peças em movimento ficam soltas dentro do motor. Em
motores quatro tempos, onde o óleo fica confinado, as partícuplas
soltas vão para o cárter e contaminam o óleo de lubrificação,
principalmente nos primeiros 500 km.
Os componentes do câmbio,
que no motor quatro tempos são lubrificados pelo mesmo óleo do motor,
são menos sujeitos aos problemas do amaciamento, já que as engrenagens
trabalham a uma rotação muito menor, mesmo assim, o desgaste existe,
mas em menor proporção. E no câmbio de motos quatro tempos existe ainda
o problema do óleo contaminado com partícuplas metálicas perder a
capacidade de lubrificação, já que é o mesmo que lubrifica o motor.
Quando
o motor dá a sua primeira funcionada nas mãos de seu novo proprietário,
seus componentes estão praticamente intactos, apesar de a moto ter sido
testada na fábrica. Qualquer rebarba, mesmo que imperceptível, começa a
ser aparada desde esse momento. Fica fácil perceber então por que é
necessário um cuidado especial nesse período. Um tranco mais forte, uma
acelerada de jeito, podem tirar essa rebarba e alguma coisa a mais. E o
uso abusivo do motor poderá ocasionar um ponto localizado de aumento de
temperatura, justamente por causa de uma dessas rebarbas, que se
alastrará rapidamente, podendo, na pior das hipóteses, causar a fusão
do material (o motor funde e trava).
Como amaciar
Com
todos estes pequenos problemas, que na verdade não passam de uma
situação temporária, sempre fica a dúvida: será que o motor está sendo
amaciado corretamente? De acordo com os técnicos da Yamaha, o período
de amaciamento das motos da marca deve ser orientado literalmente como
está no manual de instruções de cada modelo. Depois dos 1.000 km,
quando o óleo do câmbio deve ser trocado, a moto já está amaciada.
Outra recomendação da Yamaha é nunca acelerar a moto parada além dos
5.000 rpm, ou ela entrará em over-spinning (fora de giro). Isso quer
dizer que, sem nenhuma carga (o câmbio em ponto morto), o motor poderá
subir de giro mais do que o esperado.
Já os técnicos da Honda
são mais maleáveis em relação ao amaciamento de suas motocicletas. Até
os primeiros 500 km, a moto poderá ser utilizada normalmente, apenas
tomando o cuidado para não exagerar na rotação do motor, que deve ficar
até cerca de dois terços da rotação máxima. Mas isso não quer dizer que
não se pode acelerar um pouco mais de vez quando, só que por um curto
período. No fim dos primeiros 500 km, a troca de óleo é fundamental
pois, ao contrário dos motores dois tempos, o quatro tempos acumula uma
quantidade muito grande de partículas metálicas, provenientes do
desgaste inicial dos componentes (o amaciamento propriamente dito).
Além disso, existem muito mais componentes móveis, como comando de
válvulas, válvulas e todos os seus acionamentos, o que significa uma
quantidade extra de partículas que contaminam o óleo do cárter.
Para
qualquer tipo ou marca de motocicleta, existem as recomendações normais
para o período de amaciamento. Esquentar bastante a moto parada é uma
coisa que não se deve fazer nem com uma moto muito usada, quanto mais
com uma que está amaciando, o correto é aquecê-la apenas o suficiente
para sair rodando. Isso porque a refrigeração do motor, mesmo nos
modelos com arrefecimento líquido, depende da circulação do ar à sua
volta. Se o ar está parado, o motor aquecerá irregularmente e
prejudicará o amaciamento.
Já rodando, manter o motor em altas
rotações também deve ser evitado durante esse período, mas outra coisa
que deve ser evitada é manter a motocicleta a uma velocidade constante
por longo tempo, mesmo que essa velocidade seja pequena. Acontece que a
variação da rotação no motor ajuda a limpar os componentes internos,
favorecendo a “elasticidade”, ou seja a trabalhar bem em diversas
rotações.
Uma outra coisa que se costuma dizer a respeito do
amaciamento, é que um motor amaciado “no pau” acaba ficando com mais
potência que outro amaciado na boa. Isso não tem fundamento, uma vez
que o melhor motor é aquele que tem tem os componentes internos bem
assentados e sem folgas excessivas. Seja lá qual for a maneira como o
motor é utilizado durante o amaciamento, este acontecerá, de uma forma
ou de outra. Um motor que durante esse período foi utilizado acima de
seus limites, mesmo que não trave, acaba ficando com folgas excessivas
antes do tempo. Já outro motor que foi amaciado com um superpreocupado
e cuidadoso motociclista não ficará pior que qualquer outro, apenas
demorará mais tempo para ficar “solto”.
Por fim, a maior
recomendação que se pode dar a alguém que pretende fazer um bom
amaciamento é: manter a moto em perfeito estado, seguir as
recomendações do fabricante e ficar atento a qualquer irregularidade
que possa surgir.
Autor: Geraldo Tite Simões
Fonte: http://xtz250lander.blogspot.com/2007/12/amaciament o-do-motor-da-moto.html