Bruno Parisi
O frentista do posto olhou-me estranhamente ao ouvir o pedido: “Por favor, completa com álcool”. Tudo bem, ele ainda não conhecia a Honda CG 150 Titan Mix, a primeira motocicleta bicombustível do planeta, que roda com álcool, gasolina ou a mistura de ambos os combustíveis.
Apesar de saber da novidade, também desconhecia como seria o comportamento da Mix com o tanque cheio de álcool e o frio intenso que fazia em uma véspera de feriado de Corpus Christi.
As condições não eram as melhores para iniciar um teste, mas como diz o ditado popular “quem está na chuva é pra se molhar”. Debaixo de muita água a Mix foi serpenteando no caótico trânsito paulistano em horário de pico.
Nem tão melhor assim
Algumas dúvidas pairavam sobre a CG Mix totalmente abastecida com álcool. O desempenho seria melhor que a versão com gasolina, como dava a entender a ficha técnica? Haveria problemas para o motor funcionar e andar os primeiros quilômetros em baixa temperatura?
A partida elétrica (presente na versão ESD testada) fez com que a motocicleta pegasse “de primeira”. Ao sair com a Titan Mix, a luz “ALC” acendeu no painel e a atenção foi redobrada.
A CG Mix demonstrava o típico comportamento de veículos a álcool nos primeiros quilômetros: “buracos” nas acelerações e a marcha lenta inconstante, sendo necessária a aceleração para a moto não morrer. Depois de alguns quilômetros a marcha lenta se estabilizou e a novidade da Honda seguiu rumo ao interior paulista pela Rodovia dos Bandeirantes com muita chuva, frio e vento contra.
O desempenho superior oferecido quando abastecida álcool é imperceptível, mesmo com a ficha técnica apresentando um aumento considerável no torque: 1,45 kgf.m a 6.500 rpm com combustível vegetal e 1,32 kgf.m no mesmo regime de giros quando abastecida com gasolina. O aumento de potência é insignificante, 0,1 cv: 14,3 cv somente com álcool no tanque contra 14,2 cv aos mesmos 8.500 rpm abastecida com combustível fóssil.
A CG que tem sede
Abastecida com álcool, tempo frio e sofrendo com o forte vento contrário na estrada, era de se imaginar uma sede insaciável da pequena Honda pelo combustível vegetal. Resumindo: a CG 150 Titan Mix não teve “vida fácil” durante o teste. Ao calcularmos a média, um resultado bastante positivo para as condições: 29,2 quilômetros percorridos com um litro de álcool.
Com essa média de consumo, o tanque de 16,1 litros projeta uma autonomia de 465 quilômetros, respeitando uma margem de 4 km para não ocorrer pane seca, já que a novidade não tem torneirinha de combustível nem indicador de reserva. É bom lembrar que essa média pode melhorar bastante sem os fatores climáticos que acompanharam a primeira fase do teste da CG Mix.
No segundo abastecimento, a Mix recebeu três litros de gasolina e o restante do tanque foi completado com álcool. Era de se esperar que nenhuma luz acendesse no painel. Mas ao dar a partida – pegou na primeira tentativa mesmo com baixa temperatura – e sair com a motocicleta, a luz “MIX” acendeu e permaneceu assim até o próximo abastecimento.
Depois de rodar pelas estradas paulistas sem dó do acelerador era hora de ir ao posto encher o tanque novamente – dessa vez com a quantia mínima de gasolina no tanque para partidas no frio – uma média um pouco mais baixa: 27,55 quilômetros por litro.
As luzes que confundem o usuário
O sistema da Honda CG 150 Titan Mix não é idêntico ao dos carros flex por exigir um mínimo de 20% de gasolina no tanque para garantir partidas a frio. A Mix tem duas luzes no painel: “MIX” e “ALC”. Segundo o fabricante, quando a luz “MIX” acender é necessário colocar ao menos dois litros de gasolina. Se as duas luzes acenderem será necessário adicionar no mínimo três litros de gasolina no tanque para garantir a partida a frio.
Se ao virar a chave de ignição somente a luz “ALC” piscar, atenção: o teor de álcool no tanque é alto e a temperatura ambiente é baixa, o que significa dificuldades para dar a partida. Aos mais desatentos há um adesivo no tanque explicando o que se deve fazer quando alguma das luzes acender. Na teoria é o que o parágrafo explicou, mas na prática a realidade é diferente. Já que mesmo seguindo as orientações a luz “MIX” permaneceu acesa.
Ao questionar a engenharia da Honda sobre as luzes “MIX” e “ALC”, chegamos às conclusões. A luz “ALC” acende quando há mais de 85% de álcool no tanque e a luz “MIX” acende para avisar que tem os dois combustíveis no tanque. Em poucas palavras, quem utilizar álcool para abastecer a CG Mix, vai conviver com uma das luzes sempre acesa no painel.
Durante o teste, a temperatura ambiente era muito baixa e, mesmo assim, a CG Mix pegou na primeira tentativa todas as vezes pela manhã (alguns dias a moto passou a noite propositalmente no sereno) e a luz “ALC” não piscou nenhuma vez ao ligar a ignição.
Uma situação que o proprietário da CG Mix está sujeito é: ele pode completar o tanque com 100% de álcool e estacionar a moto à noite. Vamos supor que, ao anoitecer, a temperatura caia bruscamente. Será bem difícil dar a partida na moto pela manhã (como também não pode pegar, devido a ausência do tanque auxiliar de partida a frio). E ao pegar, terá o funcionamento irregular típico dos carros a álcool nos primeiros metros. Uma dica para não vivenciar essa situação a bordo de uma CG Mix é abastecer a moto com no mínimo três litros de gasolina de boa qualidade e se habituar à luz “MIX” acesa no painel.
Na ponta do lápis
Por falar em abastecimento, é bom ficar atento com os preços dos combustíveis. Analisando os preços fornecidos pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) há regiões onde os valores cobrados pela gasolina e álcool chegam a 100% de diferença, caso da região Sudeste. No Sul a variação de preço é de 74,31%, seguido pelas regiões Centro Oeste (67,52%), Nordeste (52,63%) e Norte (44,74%). Colocar na ponta do lápis o consumo da motocicleta em todas as condições, o quanto roda por mês e o preço dos combustíveis em sua região são atitudes sensatas a se fazer, para economizar combustível e dinheiro.
Além da diferença de preço entre gasolina e álcool, outro fator importante é o consumo da CG 150 quando roda com diferentes combustíveis. No teste anterior com a CG 150 2009 rodamos 41,2 km com um litro de gasolina. É preciso fazer algumas contas para saber se vale a pena pagar a diferença de cerca de R$ 300 entre o modelo Mix e o tradicional, a gasolina.
Vamos supor que um motociclista paulistano rode 3000 km por mês com sua Titan a gasolina e pague R$ 2,39 o litro do combustível fóssil. Com o consumo de 41,2 km/ litro ele gastaria R$ 174,03 no final do mês.
Já no caso da CG Mix, considerando-se que rode a mesma distância e pague R$ 1,09 no litro do álcool, o motociclista faria uma boa economia no final do mês. Com uma média de consumo de 29,2 km/ litro, ele gastaria mais de 102 litros de álcool, porém pagaria R$ 111,98. Lembrando que esses valores são praticados em postos da capital paulista.
São mais de R$ 60,00 por mês de economia. O que significa que em cinco meses, o motociclista paga a diferença de preço de R$ 300 entre os dois modelos – a gasolina e Mix. Portanto, nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste vale a pena optar pela CG 150 Titan Mix.
A bicombustível da Honda está disponível nas cores prata metálico, azul metálico, vermelha e preta. As versões oferecidas são três: KS (freios a tambor e partida a pedal), ES (freios a tambor e partida elétrica) e a top de linha ESD (freio dianteiro a disco e partida elétrica). Os preços sugeridos são R$ 6.151 (versão KS), R$ 6.683 (versão ES) e R$ 7.071 (versão ESD).
FICHA TÉCNICA:
Motor: Monocilíndrico, quatro tempos, 149,2 cm³, duas válvulas por cilindro e refrigeração a ar
Diâmetro x curso: 57,3 mm x 57,84 mm
Compressão: 9,5: 1
Potência máxima: 14,2 cv a 8.500 rpm (gasolina) e 14,3 cv a 8.500 rpm (álcool)
Torque máximo: 1,32 kgf.m a 6.500 rpm (gasolina) e 1,45 kgf.m a 6.500 rpm (álcool)
Alimentação: Injeção eletrônica PGM-FI
Câmbio: 5 marchas
Transmissão: Corrente
Chassi: Diamond
Suspensões:
Dianteira: Garfo telescópico
Traseira: duplo amortecedor
Rodas e Pneus:
Dianteiro: 80/100-18 - Pirelli City Demon
Traseira: 90/90-18 - Pirelli City Demon
Freios:
Dianteiro: Disco simples de 240 mm de diâmetro com cáliper de dois pistões
Traseiro: Tambor de 130 mm
Comprimento: 1.988 mm
Largura: 730 mm
Altura: 1.098 mm
Altura do banco: 792 mm
Entre-eixos: 1.315 mm
Peso (a seco): 120 kg (versão ESD)
Tanque de gasolina: 16,1 litros
Cores: azul metálica, prata metálica, vermelha e preta
Preço sugerido: R$ 7.071 (versão ESD)
Fotos: Gustavo Epifanio